Seja Bem Vindo!!!

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domingo, 16 de maio de 2010

CONTRIBUIÇÃO DO JOGO NO PERÍODO DE ALFABETIZAÇÃO SOB O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOPEDAGOGIA


TATIANE BORGES DOS SANTOS



CONTRIBUIÇÃO DO JOGO NO PERÍODO DE ALFABETIZAÇÃO SOB O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO


Guarulhos

2009


Dedico este trabalho à minha mãe, meus irmãos e minhas sobrinhas que sempre me incentivaram a correr atrás dos meus objetivos.



AGRADECIMENTOS

À minha família, aos professores e as pessoas, que caminharam junto comigo na concretização desse trabalho.

MUITO OBRIGADA!


"O brincar é fundamental para o ser humano. Deve ser estimulado e reconhecido como um direito e um constante desafio para melhoria da qualidade de vida de todos".


Débora Tereza Mansur Silva

RESUMO

Tatiane Borges dos Santos. Contribuição do Jogo no período de Alfabetização sob o Olhar Psicopedagógico. Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia, no Curso de Pós-Graduação “Lato-Senso”, da Universidade Guarulhos, 2009.



O objetivo deste trabalho é apresentar como se dá o processo de alfabetização, quais os pontos facilitadores para o desenvolvimento positivo da criança. Estabelecer a relação entre a compreensão da leitura e da escrita e a aplicação dos jogos, resgatando e entendendo a cultura lúdica na infância. A partir desse estudo propor a utilização do jogo como instrumento de intervenção e prevenção no atendimento psicopedagógico. O trabalho consiste em alertar a todos, sobre a importância do período de alfabetização e a conscientização que a criança tanto quanto o adulto precisa de espaço para interagir com pessoas e pensamentos diferentes para que ela possa construir sua personalidade vivenciando momentos de aprendizagens.


Palavras-chave: Alfabetização, Leitura e Escrita, Jogo, Psicopedagogia


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO 9

1 O QUE É ALFABETIZAÇÃO? 10

1.1 Evolução da Escrita 10

1.2 Leitura 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA ALFABETIZAÇÃO 13

3 LEGISLAÇÃO 15

4 A CRIANÇA E SEU PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 18

5. ORIGEM DO JOGO 21

5.1 Jogos Tradicionais 22

5.2 Contribuições do Jogo para educação 25

6. O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO NA ALFABETIZAÇÃO ATRAVÉS DO JOGO 28

6.1 Atividades lúdicas na perspectiva educacional 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS 36

REFERÊNCIAS 37


INTRODUÇÃO

O jogo e a brincadeira têm contribuído muito, no processo de ensino aprendizagem, Pesquisas atuais mostram que a atividade lúdica tem fundamental importância na vida do ser humano e está cada vez mais presente no cotidiano escolar.

Na experiência lúdica, a criança, aprende trabalhar em equipe e identificar suas dificuldades, levantando hipóteses valiosíssimas para o crescimento cognitivo, emocional, social e cultural.

Desenvolveremos este estudo partindo da fase de alfabetização e estabeleceremos relações com o jogo no desenvolvimento da aprendizagem na infância.

No primeiro capítulo falaremos sobre a alfabetização e como se dá processo de aquisição da leitura e da escrita. Segundo capítulo colocaremos os pareceres de alguns autores como: Telma Weisz e Emilia Ferreiro que estudam sobre o processo de alfabetização. No terceiro, mencionaremos o que a legislação diz sobre a educação desde a Constituição Brasileira até Lei Orgânica do Município de Guarulhos. No quarto capítulo aprofundaremos no processo de alfabetização e suas hipóteses, segundo Ferreiro e Weisz.

A partir do quinto capítulo falaremos sobre a origem do jogo e qual a sua contribuição para educação, estudos relatam que o jogo está presente em toda vida do ser humano e a partir dele se constrói conhecimentos imprescindíveis para aprendizagem, possibilitando um melhor desenvolvimento cognitivo e emocional na vida adulta.

Concluiremos este trabalho com a contribuição do jogo sob o olhar psicopedagógico no período de alfabetização. Relacionaremos algumas características dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento da criança para melhor aquisição da leitura e da escrita, expandindo esta aprendizagem para a compreensão de novos conhecimentos.

Este trabalho é somente o início de uma longa pesquisa, que, com certeza será muito enriquecedora para todos os profissionais da educação.

 
1. O que é Alfabetização?


“A alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o indivíduo constrói a gramática e em suas variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento.” pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetização

A alfabetização tem ganhado muita importância e ao mesmo tempo tem levantado várias questões que norteiam a relação entre o método utilizado e o estado cognitivo da criança. O processo de aprendizagem possui três elementos “quem ensina”, “quem aprende” e objeto envolvente dessa aprendizagem. Nesta tríade identificamos a representação alfabética da linguagem e suas características específicas e o conhecimento dos envolvidos nesse processo.

Estudaremos agora sobre a origem da escrita e da leitura dentro do processo de alfabetização.


1.1 Evolução da Escrita

A escrita sofreu inúmeras mudanças e por ser uma produção social, ela se modificou de acordo com cada fase da humanidade. Segundo Weisz (1985), a primeira escrita foi à pictográfica, que era feita através de desenhos, essa escrita só poderia ser representada por figuras que pudessem ser representadas.

Weisz (1985) relata que com o passar dos anos surgiu um outro sistema, um pouco mais avançado da escrita o ideográfico. Esse sistema surgiu na antiguidade pelos egípcios e continua atualmente existindo na escrita chinesa. Há uma diferença do pictograma e o ideograma, os dois representados através do desenho, mas o ideograma faz uma analogia, dá uma idéia do quer representar, por isso precisa ser aprendido.

A escrita ideográfica não é tão limitada quanto à pictográfica que para os povos antigos, já demonstrou algumas dificuldades principalmente para escrever nomes próprios. Nesse momento surgiu a necessidade da fonetização, como a logografia, onde cada parte de uma palavra era representada por desenhos. Exemplo: “a palavra soldado poderia ser escrita com as figuras do sol + dado. Mas os desenhos não mais se referem ao objeto representado e sim a seus nomes”. (Weisz, 1985)

Com a fonetização nas palavras a escrita evoluiu rapidamente para escrita silábica. A escrita silábica transformou os desenhos em sinais diferentes, uma para cada sílaba, e nesse momento surgiu-se à necessidade de valores sonoros, para que a ordem da grafia se iguale com a ordem da emissão da fala. Assim se deu origem a escrita alfabética, ela é uma reflexão e a consciência das propriedades da linguagem, isso representou uma economia dos sinais a serem memorizados e facilidade do sistema alfabético ser a reprodução da fala.(Weisz,1985)

Segundo Weisz considerando o sistema alfabético percebemos que a escrita sofreu diversas modificações e por muitas reflexões da humanidade, e não é única maneira de escrever.

“A escrita pode ser concebida de duas formas muito diferentes e conforme o modo de considerá-la as conseqüências pedagógicas mudam drasticamente. A escrita pode ser considerada como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras” (Ferreiro, 2001, p.10).

Podemos falar sobre os aspectos gráficos e construtivos da escrita, embora seja ignorado por diversas vezes o aspecto construtivo da escrita. O aspecto gráfico tem a ver com a qualidade do traço, distribuição espacial e símbolos, através desse aspecto podemos observar a coordenação motora da criança e suas dificuldades. Já o aspecto construtivo está ligado ao que a criança quis representar e os meios utilizados para criar a sua representação (Ferreiro, 2001).

Nesse momento, no período que a criança está mantendo uma relação da realidade com a representação escrita, podemos proporcionar através de diversos meios culturais, situações educativas, jogos e brincadeiras, e de diversas línguas, proporcionar um momento agradável de aprendizado.


1.2 Leitura

“O aprendizado da leitura é um momento importante na educação que começa na alfabetização e se estende por toda educação básica. Consiste em garantir que o estudante consiga ler e compreender textos, em todo e qualquer nível de complexidade. Depois da fase inicial de alfabetização, faz-se necessária a prática da leitura e da interpretação de textos. Uma vez alfabetizado, é possível o indivíduo ampliar seu nível de leitura e de letramento, de forma a tornar-se um sujeito autônomo e consciente. Por outro lado, a alfabetização por si só não assegura o desenvolvimento do cidadão, como uma panacéia para todo e qualquer mal oriundo da falta do saber” pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetização.

A leitura é muito importante na vida da criança, a partir do momento que a criança aprende a ler e é estimulado a fazê-lo com prazer, ele carregará essa herança pelo resto da vida.

“Se o escrever e ler que a escola ensina não tiverem função específica para a vida do aluno, de nada adiantará colocar os alunos na escola. Se a escola reduz as atividades de leitura e escrita a simples pretextos para ocupar o tempo das crianças, para diagnosticar sua capacidade mental e para avaliar o acompanhamento dos alunos, que sentido para a vida real terão a leitura e a escrita para a maioria dos nossos alunos oriundos de classes sociais onde escrever e o ler são praticamente inexistentes?” (Cagliari, 1985, p.59).

Quando a criança desde cedo possui o hábito de ouvir histórias, ela entrará no universo da leitura e da escrita, a princípio como ouvinte, ela já se familiariza com “estilo da linguagem escrita, com as estrategias de interpretação da leitura e com as fomras de prestigio da lingua, o que facilitará enormemente a tarefa de alfabetizar” Cagiari, 1985, p.59.

No início da leitura, seria interessante começar com pequenos textos, músicas, trava-línguas, adivinhas, etc, sendo bem interepretados para aguçar e estimular um pensamento crítico, que seja um momento realmente de aprendizagem, dentro das possibilidades da criança.

2. Fundamentação Teórica da Alfabetização

“Aprende-se a ler e escrever através de um processo dialético, no qual a aprendizagem acontece pela superação das contradições entre idéias do próprio aprendiz e destas com relação à escrita convencional”. Weisz, 2003.

A alfabetização se tornou uma grande busca para diversos profissionais da educação, encontrar o erro nesse processo e entender por que nossas crianças não estão aprendendo a ler e a escrever, é um dos grandes objetivos da educação. Em virtude disso estão surgindo vários problemas de aprendizagem, pois a organização educacional está sentindo a mesma dificuldade de reparar esse processo. Na tentativa de encontrar soluções para as práticas pedagógicas só encontravam o problema: a alfabetização e o fracasso escolar, nitidamente percebido na aprendizagem da leitura e escrita. (Weisz, 2003).

Emília Ferreiro em estudos investigava a seguinte pergunta “como se deve ensinar a ler e a escrever?”. Isso implicava que o processo de aprendizagem iniciava e terminava dentro da sala de aula, sem influência do meio em que a criança vive.

Weisz, 2003 apud Ferreiro, deslocou o foco da investigação de “como se ensina” para o “como se aprende”. Vendo a criança como ativo e pensante que podem construir seu próprio conhecimento, suas próprias hipóteses de funcionamento da escrita porque ela está presente no mundo onde vive não bastava limitar-se a sala de aula.

Dessas tentativas de encontrar soluções para as dificuldades de aprendizagem a escola, nos anos 70 atribuiu aos alunos que não se alfabetizavam, disfunções psiconeurológicas e para que a criança conseguisse aprender a ler e a escrever deveria ter habilidades específicas, ou seja, “prontidão para alfabetização”, aquelas que não tivessem maturidade não valia a pena alfabetizá-la, pois não compreenderia (Weisz, 2003)

Weisz, 2003 relata que surgiram então avaliações para decidir se os alunos estavam aptos para freqüentar a escola de classe regular ou especial. Nas classes especiais eram evitadas as atividades que tivessem acesso à leitura e a escrita, fazia geralmente atividades de coordenação motora. As crianças que estavam na classe regular poderiam aprender normalmente.

A escrita está no meio em que vivemos, a todo instante estamos em contato com a escrita e a participação crianças em práticas sociais, torna-se mais fácil à aprendizagem. Em contato com escrita no ambiente em que vive, ao chegar na escola facilita e dá oportunidades para criança criar hipóteses sobre a escrita. Quando a criança começa reproduzir a escrita, inicia assim as hipóteses de escrita, conseguimos perceber qual é o raciocínio da criança.

“No entanto considerar a alfabetização como construção de conhecimento em lugar de simples acúmulo de informação não significa assumir uma posição espontaneísta no que se refere ao ensino. Muito pelo contrário: uma abordagem psicogenética da alfabetização aumenta a responsabilidade da escola, em vez de diminuí-la. Nem significa que as crianças não precisem aprender o valor sonoro das letras. O que a psicogênese da língua escrita permitiu compreender é que esse saber não é suficiente para aprender a ler e a escrever. Mas suficiente não significa desnecessário” (Weisz, 2003).

Segundo Weisz, um ambiente alfabetizador facilita o processo de aquisição da leitura e escrita. O que seria um ambiente alfabetizador? Um espaço que oferece oportunidades para criança compreender e construir significados sobre a leitura e a escrita. Um ambiente que o professor/ adulto respeita e entende a reprodução da criança e consegue colocar questões para que o sujeito possa se desenvolver fazendo a ponte do conhecimento ao que precisa ser ensinado, um ambiente propício para alfabetização.

No processo da aquisição da leitura e escrita, um espaço organizado com diversas atividades, facilita a aprendizagem, como é citado no RCNEI, 1998, p.153, v.3, as atividades permanentes nessa fase são a leitura de diversas fontes de informação, gêneros e autores: jornal, livros de historias infantis, historia em quadrinhos etc.; jogo de escrita, como letras moveis, caça palavras, forca etc, brincadeiras de faz de conta, nos ambientes interiores e exteriores da instituição, trazendo novas formas de interação da linguagem, organização de diversos materiais para que do jogo simbólico, possa obter um resultado como: livros de receitas, blocos de anotações etc.


3. Legislação

A “Carta Magna da Educação Nacional expressa uma política de ensino que não se reduz, nem se circunscreve ao tratamento do ensino de forma restrita, específica e isolada, mas que prescreve todas as diretrizes e bases que possam garantir um ensino de qualidade que prepare para o exercício de cidadania e qualificação profissional” (LDB, 1996).

Pensar em políticas de ensino é refletir na ação dos professores com relação às crianças transformando a realidade, através da conscientização dos direitos de cidadania.

Falaremos neste capítulo, sobre as leis que regem o sistema de ensino, partiremos esse estudo com a Constituição de 1988, que está sendo reformulada buscando a adequação e qualidade do sistema educacional nos dias atuais.

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Constituição, 1988.

O que seria esse “preparo para o exercício da cidadania”? Partimos dos princípios de base da educação, segundo a Constituição, é a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”. Proporcionar à criança momentos em que possa expressar e compreender a vida.

A partir da Constituição, após muitos anos foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e a Lei n° 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que diz:

“O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

“III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimento e habilidades e a formação de atitude e valores...” (LDB, Artigo 32).

As leis acima citadas defendem que a partir da instituição de ensino, onde as crianças estão sendo lecionadas, podem surgir inúmeras hipóteses de aprendizagem, mas uma das mais importantes é aquisição da leitura e da escrita.

Como é citado no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, 1998, o desenvolvimento da linguagem oral e escrita se dá nas instituições como forma geral, como se todas as crianças pudessem aprender ao mesmo tempo todos os saberes muitas vezes não é respeitado o desenvolvimento cognitivo de cada criança.

Alguns autores comentam sobre a prontidão para alfabetização, essa noção está presente em várias práticas, mas com bases nas pesquisas realizadas nas últimas décadas as crianças que participam ativamente desse processo, mesmo não tendo prontidão consegue ter um bom desenvolvimento na linguagem oral e escrita (RCNEI, 1998, p. 120, v.3).

A criança mesmo antes de estar na instituição de ensino começa a elaborar hipóteses sobre a escrita. “Para aprender ler e escrever, a criança precisa construir um conhecimento conceitual: precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem”. (RCNEI, 1998)

Nessa perspectiva podemos tirar algumas conclusões sobre a aquisição da escrita, concepções da compreensão do sistema de representação da escrita e não somente como o código de transcrição da fala, essa aprendizagem coloca diversas questões conceituais e não somente de ordens motoras, perceptivas e físicas, a escrita é “um processo de construção de conhecimento pelas crianças por meio de praticas que tem como ponto de partida e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas práticas sociais” (RCNEI, 1998, p. 122, v. 3).

As crianças elaboram diversas hipóteses provisórias antes mesmo de compreender o sistema da escrita, nesse processo de construção de conhecimento é muito importante o ambiente social, pois a aquisição da linguagem escrita é mais importante em alguns lugares do que em outros. A presença da escrita facilita o processo da alfabetização, a criança quanto mais tem contato com escrita, mais idéias ela terá sobre a representação da mesma (RCNEI, 1998, p.128, v. 3).

“Pesquisas na área da linguagem tendem a reconhecer que o processo de letramento está associado tanto na construção do discurso oral como do discurso escrito. Principalmente nos meios urbanos, a grande parte das crianças, desde pequenas estão em contato com a linguagem escrita por meio de seus diferentes portadores de texto...” (RCNEI, 1998, p.121, v. 3).

No inicio da representação da escrita, as crianças cometem erros, que são esperados, e importantíssimos nesse processo, pois só escrevendo ela compreenderá as contradições da fala e da escrita, e conseguirá criar uma nova forma de “grafar que acomode a contradição enquanto ainda não é possível ultrapassá-la”.

Diz a lei orgânica do Município de Guarulhos, que a escola deve adotar além de formas convencionais do ensino regular, outros processos alternativos para garantir a aprendizagem.

“A educação é um direito fundamental do cidadão... Entende-se como educação o desenvolvimento do ser humano num processo contínuo que leva a reflexões críticas e a mudanças, para um melhor equilíbrio social nas instituições de ensino de educação infantil e de pesquisas nas relações familiares, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, no esporte, no lazer, nas manifestações culturais e nos contatos com os meios de comunicação social”. Lei Orgânica do Município de Guarulhos


4. A criança e seu processo de alfabetização

Segundo Weisz, 1985 a partir de pesquisas feitas, a criança para se apropriar do processo de representação da escrita deve e precisa construir resposta para duas perguntas: “O que a escrita representa? Qual a estrutura do modo de representação da escrita?”.

Para facilitar a compreensão da aquisição da leitura e a escrita, dividiremos de acordo com Emília Ferreiro o processo de alfabetização.

Primeiro Nível: Pré Silábico

“No início do processo, toda criança supõe que a escrita é uma outra forma de desenhar as coisas”. Ela não faz uma “diferenciação clara entre o sistema de representação do desenho (pictográfico) e o da escrita (alfabético)” Weisz, 1985, p.28.

A criança deve começar a compreender que a escrita é a representação da fala e não a representação do objeto que se refere. Nesse momento a criança entende que para escrever o nome de animais e objetos grandes é preciso de muitas letras e para escrever o nome de animais e objetos pequenos precisa de poucas.

A criança não tem seqüência nas informações.”Desmente e problematiza, obrigando a criança a construir uma nova teoria, uma nova hipótese” Weisz, 1985, p.29. A partir dessa situação a criança percebe as características formais da escrita e constrói duas hipóteses, que vão acompanhá-la no processo de alfabetização:

 Para escrever precisa de um número mínimo de letras entre 2 e 4 para compreender a escrita;

 Precisa de um número mínimo de variedades de caracteres para ler o que está escrito.

A criança quando percebe que a escrita representa a fala, começa a formular hipóteses que talvez não existem, mas que não necessárias para a construção do conhecimento.



Segundo Nível: Silábico

“O que caracteriza a hipótese silábica é que cada letra representa uma silaba, isso porque a menor unidade de emissão é a silaba” Weisz, 1985, p.31. A criança começa a perceber que não se escreve com desenhos, ela já usa letras ou algum tipo de sinal que representa as letras.

Nesse nível, a criança não faz relação das letras com os sons da fala, ela escreve com símbolos, mas não relaciona esses símbolos com a língua oral e, portanto, se subdivide em dois processos: Silábico Com Valor Sonoro – que há relação da letra com a pronúncia e Silábico Sem Valor Sonoro – que não possui a relação da letra som.



Terceiro Nível: Silábico Alfabético

Nesse período “as letras podem começar a adquirir valores sonoros (silábicos) relativamente estáveis, o que leva a estabelecer correspondência com o eixo qualitativo: as partes sonoras semelhantes entre as palavras começam a se exprimir por letras semelhantes. E isto também gera suas formas particulares de conflitos” (Weisz, 1985, p. 33).

Nessa fase a criança está em transição se você perguntar quantas letras é preciso para escrever, por exemplo “lobo”, ela vai dizer duas, uma letra para cada sílaba oral.



Quarto Nível: Alfabético

É o nível onde a criança compreende que a escrita é feita utilizando o alfabeto. Descobriu que cada letra representa um som da fala (sílabas) e para construirmos palavras precisamos juntar as sílabas.

“Se o professor compreende a hipótese com que a criança está trabalhando, passa a ser possível problematizá-la, acirrar através de informações as contradições que vão gerar o avanço em direção à hipótese alfabética” Weisz, 1985, p. 35.

Na fase de alfabetização, é fundamental para criança o uso de jogos e brincadeiras, pois a partir do momento que a criança está brincando, ela também está aprendendo.

Veremos a origem do jogo e das brincadeiras e qual a relação que podemos estabelecer com a educação.

“A pedagogia, apesar da existência de muitos métodos de ensinar a ler e escrever, tem ainda de desenvolver um procedimento cientifico efetivo para o ensino de linguagem escrita às crianças.” (Rocco, 1990, p. 26 apud Vygotsky).

5. Origem do Jogo

O Jogo é visto como uma necessidade vital. “O brincar é fundamental para o ser humano. Deve ser estimulado e reconhecido como um direito e um constante desafio para melhoria da qualidade de vida de todos” (Silva, Julho, 2008).

Antigamente os jogos eram utilizados em solenidades para união do povo grego, os famosos jogos estratégicos, mas não se tem registro dos mesmos. Os jogos pacificaram a Grécia quando o povo cultivava sua religião consagrando os deuses.

Segundo José Maria Orreda, os jogos são contatos a partir do ano 776 a.C. quando teve registro do primeiro atleta. Com as diversas batalhas e invasões que a Grécia sofreu que somente em 1876, um bilionário inglês patrocinou para que os arqueólogos desenterrassem o estádio olímpico e os alojamentos dos atletas. Os jogos olímpicos foram restabelecidos em 1896 através do Barão Pierre de Coubertin que estudou muito e divulgou os jogos até conseguir apoio para realizar a primeira edição dos Jogos Olímpicos, hoje a maior festa esportiva sócio cultural onde fogo surge com o símbolo da evolução do homem.

Os jogos têm grande importância para crianças, jovens e adultos como forma de autoconhecimento, transferência de informação e cultura. Para o adulto o jogo exercita paciência ameniza a ansiedade, promove respeito e tolerância no convívio social.

“A ludicidade é importante para o ser humano em qualquer idade, então, propiciar situações com jogos é garantir prazer, desafio e melhor desempenho nos alunos em diversas áreas do conhecimento” (Sueli Santos da Costa, julho, 2008).


5.1. Jogos Tradicionais

“(...) a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e emitir o prazer de brincar”. (Fronza, 2005 apud Kishimoto, 1997 p. 38-39)

Os jogos tradicionais surgiram com a miscigenação do índio-branco-negro.

Existem depoimentos de diversos escritos de viajantes estrangeiros, dos folcloristas e obras literárias sobre a importância dos jogos tradicionais na educação e socialização da criança, pois brincando e jogando se estabelecem vínculos sociais e distinguindo direito à todos. Compreende as regras traçadas pelo grupo e aprende a ganhar e perder.

Bernardes apud Amado, 2002, p.11, relata que o universo lúdico não é uma simples imitação dos adultos, mas sim a descoberta de um mundo cheio de mistérios, magia e liberdade sem limites.

Segundo Bernardes apud Cascudo (1984) e Kishimoto (1999 e 2003), p.543, as brincadeiras tradicionais é uma forma de manifestação da cultura popular que passa de geração para geração.

Cascudo, 2001, afirma que grande parte da cultura lúdica foi trazida pelos portugueses e faziam parte da cultura européia. Brincadeiras como: adivinhas, parlendas cantigas de roda, histórias de príncipes, rainhas, assombrações, bruxas, brincadeiras como: pipa, pião, bodoque e os jogos de pedrinhas.

Segundo Bernardes, o bodoque é um brinquedo tradicional dos meninos nos sertões do interior do país, trazidos pelos primeiros portugueses “possui duas cordas bem esticadas e separadas pó dois pedacinhos de madeira; no meio, as cordas são unidas por um trançado chamado “malha”, “rede” ou “sanga”. Esse brinquedo é utilizado para abater pequenos animais a distância.

Outro brinquedo produzido pelas crianças é o estilingue conhecido também como: “atiradeira, baladeira”. “O pião ou pinhão é um brinquedo construído com madeira de goiabeira, laranjeira e jacarandá, tendo na ponta um prego”. Rocco

O pião foi introduzido na lúdica infantil pelos primeiros portugueses. Segundo Bernardes apud Cascudo, esse brinquedo originou-se na Antiguidade Clássica e na Grécia era conhecido como “strombos e em Roma por turbo”.

Na idade média, os jogos e os brinquedos foram associados Às idades da vida. Mas como mostra Rocco apud Ariès, 1981, os jogos e os brinquedos da atualidade são considerados típicos de crianças como: “jogo de pedrinha, amarelinha, pião, cobra-cega, entre outros, em épocas passadas eram compartilhados com o mundo dos adultos”. Os mesmos jogos e brinquedos utilizados em épocas remotas eram utilizados também em cultos e rituais religiosos, tornaram-se atividades do mundo infantil quando “a brincadeira se libertou de seu simbolismo religioso e perdeu seu caráter comunitário, tornando ao mesmo tempo profana e individual” (Ariès, 1981).

A pipa ou o papagaio foi trazido para a América Portuguesa no século XVI, de origem oriental e foi inventada pelo general chinês Hau-sin no ano de 206 a.C. Este comandante utilizou a pipa para calcular a distância e contam às tradições que a pipa era uma das formas de comunicação para pedir ajuda as cidades vizinhas.

Bernardes apud Freyre, 1984, conta que nas casas grandes os meninos brancos ganhavam “moleques negros” como presentes para servir de cavalo de montaria, que os barbantes serviam rédeas e as meninas brincavam com jogos de faz de conta com as meninas negras, eram tratadas como escravas.

Segundo Bernardes apud Kishimoto, 1999, p.46:

“O jogo simbólico auxiliava as meninas, tanto brancas como negras, a compreenderem a trama das relações de dominação da época e funcionava como mecanismo auxiliar para incorporação dessas relações. A menina escrava, desde pequenas, em seu papel de servir a senhora branca, obedecer lhe: e a menina branca, em seu posto de mando, de administradora de negras escravas”.

Através da “miscigenação índio-branco-negro e a falta de documentação sobre os jogos dos meninos negros no período colonial dificultam a especificação da influência africana no folclore infantil”. No entanto, a partir da linguagem oral as mães africanas, as amas de leite mudaram “as canções de ninar de origem portuguesa e, em vez do papão, surgem Saci-Pererê, a mula sem cabeça, as almas penadas, a cuca, o boitatá, o lobisomem” entre outras superstições, lendas e histórias que eram contadas para as crianças malcriadas das casas grandes e senzalas.

Segundo Bernardes apud Cascudo, 2001 pesquisou sobre a influencia indígena na lúdica infantil brasileira e descobriu que nos séculos XVI e XVII, os meninos indígenas já conheciam e brincavam com as ferramentas que os pais e adultos utilizavam como instrumento de caça, essas atividades já o preparavam para a vida adulta formando futuros pescadores e caçadores. Já as meninas desde pequenas acompanhavam e auxiliavam suas mães nas tarefas domésticas, bem como na colheita dos alimentos.

As crianças indígenas gostavam muito de imitar animais e brincar de peteca que eram confeccionadas com palha de milho e enfeitadas com penas de aves.

A cultura lúdica recebeu influencia de diversas regiões do mundo. Os jogos tradicionais atuais estão sendo reformulados, sofrendo alterações em virtude das novas modalidades trazidas pela TV, vídeo game e Internet.

Como afirma Silveira e Torres apud Brougere, 2004, p.14 “o brinquedo tanto se apropria de transformações do mundo como nos permite ter acesso a elas e é mais do que um objeto, é “um sistema de significados e práticas, produzidos não só por aqueles que o difundem, como por aqueles que o utilizam, quer se trate de presentear ou de brincar”


5.2. Contribuições do jogo para a Educação

O brincar é visto como uma dinâmica interna do indivíduo e precisa de uma significação social e lúdica cultural para que haja aprendizagem. O jogo só existe em um sistema de interpretação das atividades humanas, não há um fator que diferencie a atividade lúdica de outro comportamento. Houve um tempo que o jogo era visto como uma atividade sem valor, que a criança brincava para não viver as coisas sérias da vida (Kishimoto, 2002, p. 20-22)

Oliveira, 2003 relata sobre alguns teóricos como: Piaget, Winnicott e Froebel e suas concepções em relação ao jogo.

Piaget relata que a criança, através do jogo se envolve de tal forma que desenvolve seu pensamento cognitivo e lógico, as regras existentes nos jogos faz com que a criança produza representações espontâneas, além de aumentar a capacidade de socializar melhor com o mundo real.

Nallin, 2005, pg.19 apud Piaget classificou as atividades lúdicas de acordo com a fase de desenvolvimento da criança, conforme descrito a seguir:

Sensório Motor: que vai do nascimento até o aparecimento da linguagem (aproximadamente 2 anos) esse período caracteriza com jogos de exercícios, atividades repetitivas com gestos e expressões com o próprio corpo.

Pré - operatório: (2 anos à aproximadamente 4 anos) manifesta-se o interesse pelos jogos simbólicos de ficção, imitação ou faz-de-conta. A função do jogo simbólico consiste em assimilar a realidade, pois também é uma forma de auto- expressão, principalmente quando imita situações da vida real.

Período Intuitivo: dos 4 aos 7 anos, inicia –se os jogos de regras, quando a criança deixa a fase do egocentrismo e começa a socializar-se, os jogos com regras são fundamentais para a cooperação e o diálogo entre os jogadores

Período Operatório Concreto e Abstrato: dos 7 em diante mantém os jogos com regras que se estende para a vida toda.



Oliveira, 2003 apud Winnicott relata que o jogo é um ato criativo que facilita a aprendizagem. O jogo é muito importante no processo educativo, através da brincadeira a criança expressa o que está internalizado e consegue expor de maneira prazerosa, formando um melhor convívio social.

Segundo Oliveira, 2003 apud Froebel “tudo na natureza e na vida está em conexão íntima e contínua, cada detalhe é ao mesmo tempo um todo em si e parte de um todo. O jogo é um espelho mágico capaz de ajudar a descobrir suas interrogações e certezas”.

“O jogo é, um quebra cabeça... Não é como se pensava simplesmente um método para aliviar tensões. Também não é uma atividade que prepara a criança para o mundo, mais uma atividade real para aquele que brinca” (Oliveira apud Friedimann).

O que percebemos é que a partir do brincar, a criança constrói novos conhecimentos e se desenvolve nos aspectos cognitivo, emocional, moral e social.

Froebel compara o desenvolvimento das crianças com sementes e a harmonização do seu desenvolvimento dependeria das relações entre o homem, a natureza e Deus. A partir dessa relação o ser obteria consciência do seu interior, através de conhecimentos vivenciados no mundo exterior. Esse processo resultaria na exteriorização do interior, mas precisaria da mediação de algo concreto como um brinquedo e o auxilio de um adulto.

“O aprender fazendo, proposto por Froebel, respeita, antes de tudo, a metodologia natural das crianças. Segundo Froebel, a máxima que deve reger toda a educação é “(...) observar, apenas observar, pois a criança mesma te ensinará” (Arce, 2004 apud Cole, 1907, p. 26).”

Froebel relata que o jogo e a fala são de grande importância para o sucesso da atividade educativa e para realização do autoconhecimento com liberdade. O jogo seria a principal fonte do desenvolvimento na primeira infância, e constitui a fonte de tudo o que caracteriza o indivíduo e sua personalidade.

Arce, 2004 apud Vygostsky, 1984 relata que a criança reproduz ao brincar situação real, através da zona proximal e mediação com o brinquedo e o imaginário.



Arce, 2004 apud Elkonin, 1998 afirma que:

“(...) A base do jogo é social devido precisamente a que também o são sua natureza e sua origem, ou seja, a que o jogo nasce das condições de vida da criança em sociedade. As teorias do jogo que o deduzem dos instintos e dos impulsos internos marginalizam, de fato, a questão de sua origem histórica. Ao mesmo tempo, a história do surgimento do jogo protagonizado é justamente aquela que pode nos revelar a sua natureza.”


6. O olhar psicopedagógico na alfabetização através do jogo

“A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas. Tem desejo de estar próxima às pessoas e é capaz de interagir e aprender com elas de forma que possa compreender e influenciar seu ambiente” (RCNEI, 1998, p. 21 v. 2).

Como diz Nadia A. Bossa, 2007 apud Lino de Macedo, 1992, a psicopedagogia surgiu como instrumento para melhor compreensão do processo de aprendizagem.

A psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos (Bossa, 2007 apud Maria M. Neves, 1992 p.10).

O atendimento psicopedagógico pode ser preventivo e clinico. No trabalho preventivo o psicopedagogo pode trabalhar com três diferentes níveis. O primeiro nível o psicopedagogo atua nas questões didático-metodológicas, na formação e orientação dos professores, além de acompanhamento com os pais. No segundo nível, ele vai tratar dos problemas de aprendizagem já instalados, criam-se planos diagnósticos da realidade institucional e elaboram planos de intervenção baseados nesse diagnostico, procura-se avaliar o currículo para não haver reincidência desses transtornos. No terceiro o objetivo é eliminar os transtornos já instalados na psicopedagogia clinica e todas as suas implicações. Ao eliminarmos estamos prevenindo o aparecimento de outros.

Na alfabetização, quando o professor se depara com novas teorias toda equipe sente dificuldades. O psicopedagogo auxilia na compreensão dessas novas teorias e juntamente com os profissionais da escola trata de elaborar métodos de ensino compatíveis com as novas concepções acerca desse processo. Nesse momento corresponderia ao primeiro nível preventivo, auxiliar os professores incorporar novos conhecimentos e procedimentos metodológicos decorrentes (Bossa, 2007).

Ainda na alfabetização, se um determinado grupo, classe ou instituição sente algum transtorno na aprendizagem, o psicopedagogo atua no segundo nível preventivo, primeiramente a realização do diagnóstico do grupo e posteriormente a intervenção no processo didático metodológico em vigor. Nesse nível devem-se detectar as causas dos transtornos e encontrar meios para eliminar os mesmos. No terceiro nível o psicopedagogo deve tratar a dificuldade evitando o aparecimento de novos transtornos.

Explica Bossa, 2007 apud Freud, V.XX, 1976 que o jogo é a atividade criativa e curativa, pois permite a criança reviver ativamente as situações cotidianas ensaiando na brincadeira suas expectativas da realidade.

Bossa, p. 109, 2007 apud Alicia Fernandes p. 165, 1990 aponta: “não pode haver construção do saber se não se joga com o conhecimento” o saber é a incorporação do conhecimento no fazer do individuo.

Bossa, p.110, 2007 apud Fernandes, p.171 1990 propõe a hora do jogo como estratégia para perceber a estrutura no ato de aprender. Bossa, 2007 apud Sara Pain, 1986 relata a aptidão da criança para os aspectos fundamentais da aprendizagem que são: criar, refletir, organizar e integrar.

Nesse processo o jogo é a estratégia de intervenção e possui um papel muito importante, mas a interpretação psicopedagógica também deve ser investigada e interpretada os elementos apresentados pelo atendido.

(...) dizia que para se desenvolver, a criança não devia apenas olhar e escutar, mas agir e produzir sobre a natureza. Ele considerava que o trabalho manual, os jogos e os brinquedos tinham uma função educativa básica. No seu trabalho docente, Froebel colocava em prática a “teoria do valor educativo do brinquedo e do jogo” (Fronza, 2005 apud Arce, 2002, pg.60).


6.1. Atividades Lúdicas na perspectiva educacional

No livro Trabalhando com recreação de Cavallari e Zacharias, 2003 percebemos a diferença entre a brincadeira e o jogo. O brincar é a atividade principal da criança, por isso ela simplesmente acontece e continua enquanto houver motivação e interesse. As brincadeiras nem sempre apresentam evolução regular, pois não há formalidade. Podem sofrer modificações e conseqüências imprevisíveis, se a brincadeira for individual não possui regras, mas se forem grupo sugere regras.

A brincadeira proporciona alegria liberdade e contentamento, é a atividade tipicamente humana. Segundo Froebel o brincar é a ação livre da criança, ao brincar ela transforma e transfere suas ações simbólicas ao mundo real.

Os jogos possuem elementos indispensáveis para o processo de aprendizagem, pois propicia novos desafios e incentiva a descoberta, a criatividade e a criticidade, desperta o imaginário ampliando conhecimentos, desbloqueando aprendizagem aprisionada facilitando esse processo tornando-o prazeroso. O brinquedo é o objeto suporte para a brincadeira que estimula o imaginário infantil.

A brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, é o lúdico em ação. Já o jogo não se confunde com o brinquedo nem com a brincadeira.

O jogo carrega a construção do conhecimento podendo nem sempre ser agradável, é ação do indivíduo sobre a realidade com simbolismo reforça a motivação, possibilitando um sistema de regras que define perda ou ganho que muitas vezes pode gerar sentimentos de frustração angústia, insegurança, por isso a necessidade de um mediador para equilibrar esses sentimentos e construir o aprendizado.

Segundo Nallin, 2005, pg. 8 apud Almeida, 1992 é “necessário que o educador se conscientize de que ao desenvolver o conteúdo programático, por intermédio do ato de brincar, não significa que está ocorrendo um descaso ou desleixo com a aprendizagem do conteúdo formal”, e sim está trabalhando o processo de conhecimento da criança de forma agradável e significativa.

“Não acreditamos que existam atividades específicas para determinadas faixas etárias”. Todos os jogos e brincadeiras podem ser adaptados para um bom aproveitamento nas atividades, desde que sejam respeitadas as características individuais do grupo/faixa etária. Observamos alguns jogos e brincadeiras.


Faixa etária: aproximadamente 0 a 2 anos:

Características:

Sensório-motora e coordenação motora.

Tipos de atividades:

Brincadeiras referentes à educação sensório-motora e exploração como: canto, perguntas e respostas, esconder e achar.


Faixa etária: aproximadamente 2 a 4 anos:
Características:

Faz de Conta.

Tipos de atividades adequadas:

Brincadeiras sem regras, imitações de situações conhecidas, utilização das formas básicas de movimento.


Faixa etária: aproximadamente 4 a 6 anos:
Características:

Começa a aceitar regras e a compreendê-las; trabalho atenção e concentração; Interesse por números, letras, palavras e significados e nessa fase podem-se iniciar os jogos cooperativos.


Tipos de atividades adequadas:

Brincadeiras com ou sem regras; atividades de muita movimentação e Faz de conta.


Faixa etária: aproximadamente 6 a 8 anos:



Características:

Discriminação visual e auditiva; atenção e memória; aceitam regras, na maioria das vezes convive bem em grupo, começa a definir seus próprios interesses e o interesse pelos jogos competitivos.



Tipos de atividades adequadas:

Brincadeira de rodas cantadas e dançadas; pequenos jogos; atividades em equipes; desafios e adivinhas.



Faixa etária: aproximadamente 8 a 10 anos:

Características:

Capacidade de reflexão; Memória; Raciocínio concreto e abstrato e o crescente interesse pelo trabalho em grupo.

Tipos de atividades adequadas:

Brincadeiras; pequenos jogos; atividades em grupo; atividades de ação; atividades de raciocínio; atividades de desafio; início de experiências.


Faixa etária: aproximadamente 10 a 12 anos:
Características:

Excesso de disputa; separação dos sexos; necessidade de trabalho em grupo.

Tipos de atividades adequadas:

Menor interesse pelas brincadeiras; interesses por pequenos jogos em potencial; grandes jogos com regras adaptadas (pela sua complexidade); integração social.



Faixa etária: aproximadamente 12 a 14 anos:

Características:

Revalorização do sexo oposto; supervalorização da competição; grande discrepância de habilidades e de maturidade entre os sexos; falta de percepção dos limites sociais; necessidade de auto-afirmação; grandes conflitos de personalidade; são altamente influenciáveis.

Tipos de atividades adequadas:

Desvalorização das brincadeiras; pequenos jogos em pequena escala; atividades em que ele possa demonstrar habilidade.


Faixa etária: aproximadamente 14 a 18 anos:

Características:

Identificação plena com o sexo oposto; aceitação e discussão das diferenças de habilidades entre os sexos; ainda apresenta necessidade de auto-afirmação; desprezo pela atividade motora (período de grande sonolência); valorização das atividades sociais e culturais.

Tipos de atividades adequadas:

Esporte propriamente dito; gincanas de múltiplas dificuldades; valorização de atividades junto à natureza; jogos com grande complexidade de regras.


Adultos:

Características:

Atividade física; valorização e aceitação da atividade lúdica; supervalorização da estética; dificuldade para a organização das atividades e exposição por medo do ridículo; preferência pela atividade lúdica em grupo; aceitação da derrota e vitória (com exceções).

Tipos de atividades adequadas:

Esporte propriamente dito; valoriza atividade em grupo; atividades lúdicas de grande participação; enfoque nos jogos de salão e de mesa; jogos de sorte e azar: apostas; Atividades culturais, festas, reuniões, viagem.


Terceira Idade:

Características:

Necessidade de integração social (muitas vezes são discriminados); necessita e valoriza a atividade em grupo, cultural e lúdica; dificuldade de aceitar os erros e acertos das outras pessoas; não sente tanta dificuldade de se expor (permite-se mais); valoriza a participação que o resultado;

Tipos de atividades adequadas:

Esportes (aceita adaptação das regras à sua faixa etária);

Supervaloriza atividades recreativas de grande participação; atividades artesanais e trabalhos manuais; jogos de salão e de mesa em potencial; Atividades culturais, festas e viagens.

A partir das propostas de atividades acima, podemos reafirmar que o jogo e a brincadeira permeiam durante toda a nossa vida fazendo parte do nosso desenvolvimento podendo ampliar nosso convívio social, cultural e humano.


Considerações finais

A partir das pesquisas apresentadas neste trabalho, podemos concluir que o ato de jogar e brincar são fundamentais na vida do ser humano, desde a tenra idade e enquanto houver disponibilidade e interesse.

Através dos jogos podemos estabelecer conceitos de limites, moralidade e auxiliar no desenvolvimento cognitivo, emocional e construtivo dos conhecimentos adquiridos na vivência da criança.

No tratamento psicopedagógico percebemos a importância dos jogos na aprendizagem, a partir de uma simples brincadeira, podemos diagnosticar quais são as dificuldades da criança, por exemplo, através do faz de conta, há possibilidade da representação de fatos reais do seu cotidiano.

A brincadeira proporciona momentos de convívio social e cultural muito rico onde há troca de experiências e aprendizagens.

A alfabetização é um momento de descobertas e o jogo é um ótimo instrumento para tornar a aprendizagem significativa e prazerosa, a partir, dele exercitamos as percepções: oral, visual, auditiva e cognitiva.

A cultura lúdica faz parte do desenvolvimento da criança. É brincando que se aprende!


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